Thursday, January 11, 2007

DIA 17 - EL CALAFATE - USHUAIA


CHEGUEI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Objetivo cumprido, no prazo previsto, conforme planejado! Depois de:

  • Exatos 7272,7 km rodados
  • 575 litros de gasolina
  • 108,35 reais; 528,55 pesos argentinos; 124.845 pesos chilenos gastos em combustível
  • 137 horas 19 minutos viajando, dos quais:
    90 horas e 47 minutos sentado na moto em movimento
    46 horas e 32 minutos com a moto na estrada mas parado descansando, passando em fronteira, pagando pedágio
  • Velocidade máxima atingida em todo o percurso de 181 km/h
  • Média horária em movimento de 76,84 km/h
  • Média horária real, considerando paradas de 51,25 km/h

CHEGUEI A USHUAIA ONTEM, AS 19h30m.

Pulei da cama as 5h da manhã, pra enfrentar os 900 km até Ushuaia, dos quais, 120 de rípio. Além, é claro, das 4 fronteiras (pra chegar a Ushuaia tem que passar pelo Chile... aí já viu, sai da Argentina, entra no Chile, roda 200 km, sai do Chile, volta pra Argentina...).

Estrada tranquila, asfalto bom, comportamento da moto absolutamente inalterado depois do tombo, tudo correndo às mil maravilhas. Sair de madrugada tem a vantagem de que a pilotagem nas primeiras horas da manhã é tranquila porque não tem movimento e tem-se a impressão de que o dia rende mais. Mas o frio...

Ventava muito! E a temperatura que já era baixa, tornava-se à beira do insuportável pra qualquer parte do corpo humano exposta ao frio. No meu caso, apenas o queixo, no vão entre o capacete e a jaqueta... Senti que se desse um peteleco ali ia quebrar, aí resolvi parar pra pegar uma blusa daquelas com gola comprida (cacharrel é o cacete!!!!), e pra isso, tive que tirar as luvas. Resumo da ópera: resolvi o problema do queixo, e congelei as mãos! Impressionante, mas congelou mesmo, apenas 2 minutos com elas expostas à ação do vento. Atenção motociclistas: jamais saiam de casa sem balaclava quando estiverem na patagônia!!!!

O trajeto até Rio Gallegos, primeira parada a cerca de 300 km de El Calafate foi tranquilo. De Rio Gallegos faz-se a travessia da fronteira e pega-se o ferry de Punta Delgada a Puerto Espora, uma travessia rápida, de uns 20 minutos, na faixa, ninguém cobra nada.

De lá, pelo território chileno, uns 120 km de rípio até a fronteira para voltar pra Argentina, em San Sebastian. De lá, pouco mais de 300 km, todos de asfalto, passando por Rio Grande até chegar a USHUAIA!!!!!!!

O tempo todo, o vento foi o maior adversário. Pra ser sincero, achei que a pilotagem da moto nessas condições seria pior. Ela não chega a assustar, mas impressiona a força do vento e o fato da moto ter que andar de lado, inclinada, o tempo todo. Quem mais sofre é o pescoço, que tem que fazer força o tempo todo pra segurar a cabeça em cima do corpo. E o vento também gera episódios interessantes... na fronteira para reentrar na Argentina peguei um monte de informação sobre Ushuaia e coloquei na mala traseira. Parei depois em Rio Grande para abastecer e comer alguma coisa, e quando abri a mala, os papéis voaram todos... imagina videocassetada, o babaca correndo atrás dos papéis, tentando pisar pra segurar, não conseguindo, correndo atrás de novo, e por aí vai... alguém tinha que ter filmado isso. Mas consegui resgatar tudo!!!! :-D

No caminho, um fato inusitado. Num ponto do trecho de 120 km de rípio, no final de uma reta que antecedia uma curva, vi de longe algo diferente. Parecia que a estrada tinha mudado de cor, um negócio meio estranho. Quando cheguei mais perto, vi que era um rebanho de ovelhas. Não um rebanhozinho qualquer, mas um verdadeiro mar de ovelhas, com os gauchos (sem acento mesmo...) e os cãos pastores tocando as bichas pela estrada. A única forma de atravessar era literalmente ir abrindo caminho no meio daquele mar de ovelhas. Um casal de brasileiros que viajava num Civic que eu havia ultrapassado na estrada e que encontrei posteriormente na aduana argentina disse que me fotografou no meio daquela ovelharada e ficou de mandar a foto. Tomara que mandem mesmo, vai ficar interessante!

Encontrei vários motociclistas pelo caminho, a maioria voltando. Na saída de El Calafate uma dupla de gaúchos de V-Strom voltando para POA. Vários na estrada e na fronteira, uma dupla também de gaúchos (só dá gaúcho aqui... sem trocadilhos... :-D), voltando com uma XT600 e uma Dragstar, sendo que o da Drag já tinha, segundo ele, "comprado um lote" no rípio também. levar chão pra esses lados realmente parece mais comum do que eu imaginava.

A Terra do Fogo, cuja cidade mais ao Sul é Ushuaia, possui um cenário interessante. Meio de estepe, vegetação rasteira, apenas nas proximidades de Ushuaia mudando para características de montanha. Nas proximidades de Ushuaia, várias estações de esqui e hotéis de montanha, neste época, quase todos desativados.

Os últimos 50 km foram feitos em ritmo bem lento... De forma inconsciente, soltei o acelerador e fui devagar, curtindo a paisagem, mas principalmente, saboreando cada pedaço de quilômetro dos últimos que me separavam de Ushuaia... As curvas, as montanhas, os carros em sentido contrário, o vento gelado, algumas lágrimas borrando a visão por dentro do capacete... Prestava atenção em cada detalhe, daqueles que a gente não observa na velocidade da estrada. Que tesão! Eu estava chegando a Ushuaia. 17 dias depois de sair de Curitiba, sozinho, com um tombo pelo caminho. Aliás, que bom que bom que a Ruta 40 me jogou pro chão. Do contrário, talvez eu não valorizasse tanto chegar até aqui. Tudo teria dado muito certo, e assim não tem graça! Na chegada, lembrei várias vezes que eu quase não chegava até ali, quase ficava pelo caminho por um descuido besta, que em 10m poderia ter arruinado tudo que foi construído ao longo de mais de 7.000 km. Pode parecer piegas, mas nessas horas, muita coisa passa pela cabeça. Os sonhos que já foram e os que ainda virão, as pessoas que fizeram, fazem e farão parte destes sonhos, a dificuldade de realizá-los, mas principalmente, o puta tesão que é conseguir realizá-los e que, em última análise é o combustível para correr atrás: a sensação de ter conseguido, ao final, é absolutamente impagável!!!!

Não consigo explicar exatamente qual a razão do meu fascínio por longas viagens de moto. Me lembro da primeira vez em que senti desejo de ter uma moto (sim, à época, apenas desejo). Foi quando o Joel (graaaaande Joel!!!) comprou uma Shadow importada, quando elas ainda nem existiam no Brasil, e me chamou pra ver a moto. Fiquei hipnotizado por aquele objeto de metal, reluzente, que trazia à mente a imagem de grandes aventuras em duas rodas. Me lembro do primeiro grande "desafio" sobre duas rodas: chegar de Curitiba a Guaratuba montado na minha primeira Sahara. Depois, a época das motos custom, pelas quais ainda sou apaixonado (tanto que a Harley ainda tá lá na garagem, descansando...), o primeiro tiro maior até Vitória (já experimentando as viagens solo...), a aventura amadora com o grande companheiro Edu até Buenos Aires e Punta o ano passado (amadora porque os dois animais não tinham uma chave de fenda nas motos e acharam que com dois tubos de tirepando conquistariam o mundo!!! :-D...), até chegar às big trail e à vontade de ir longe, em estradas por onde poucos já rodaram e ao planejamento de fato para chegar à Ushuaia, feito em praticamente um mês (embora a vontade de ir até Ushuaia há tempos estivesse no ar, e a partir deste momento, já se está, ainda que insconscientemente, planejando). Mas o fato é que este fascínio sempre resulta em coisas boas, em conquistas pessoais que me fazem ir além de determinados limites de uma forma absolutamente natural, como se esta fosse a ordem natural das coisas. Como está idéia, que pareceu maluca pra quase todo mundo, de vir até o tal do fim do mundo sozinho. "Tá maluco!", "viajar pra lá sozinho!", "que coragem!". E o engraçado é que nunca, em momento algum, eu consegui enxergar grandes riscos nesta aventura, desde que ela fosse planejada de forma adequada. Não acho, de verdade, que tenha sido necessária muita coragem, ou correr riscos desnecessários. Penso apenas que com paixão, energia e vontade (não apenas desejo), a percepção do risco se modifica, a capacidade de realização se amplifica enormemente, e torna-se possível fazer coisas que não imaginamos.

Agora, vou conhecer a tal Ushuaia e ver que diabos tem aqui pra fazer a gente vir de tão longe pra esse lugar...

PS. 1: À galera que literalmente "viajou" comigo, mandando e-mails, SMSs, batendo papo no messenger pelos pubs da vida, valeu muito. Vocês não deixaram essa empreitada ser solitária em momento algum. Muit, mas muito obrigado pelo companhia.

PS. 2: Ao grande André Barbalho, pioneiro da exploração do fim do mundo sobre duas rodas, um abraço público. Já te disso isso ontem por SMS, mas repito aqui: você foi o grande inspirador e o maior incentivador desta aventura solitária. TODAS as vezes em que falei contigo a respeito você me disse que eu não podia deixar de "ir lá pra baixo" de jeito nenhum. Thanks, mate!

PS.3: Alguém tem informações sobre como despachar uma moto pro Alasca? Sim, porque pra descer do Alasca até Ushuaia (de novo Ushuaia...) cruzando as tres Américas de ponta a ponta, não dá pra comprar a moto nos EUA porque não dá pra importá-la pro Brasil depois de usada... portanto o único jeito é despachar pra lá. Alguém sabe como faço isso?????? ;-)

ROTEIRO: El Calafate - La Esperanza - Rio Gallegos - San Sebastian - Rio Grande - Ushuaia
KM: 879,1 KM percorridos hoje, dos quais 120 no ríprio - 7272,7 KM percorridos no total

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