Thursday, January 18, 2007

DIA 23 - CASILDA (ARG) - SÃO LUIZ GONZAGA (BRASIL-SIL-SIL-SIL)


Dia do retorno à Terra Pátria...

É interessante a sensação que sempre tenho quando volto pro Brasil após algum tempo em outro país. Criticamos, reclamamos, achamos defeito em muitas das coisas que nos cercam por aqui. Mas bastam alguns dias em outro lugar, pra esquecer todas as mazelas e enxergar as virtudes. E por mais que o tempo passe, essa sensação nunca deixa de se fazer presente.

Hoje saí um pouco mais tarde de Casilda, precisava dormir um pouco mais porque o ritmo dos últimos dias tem sido acelerado. Na média, tenho rodado 1100 km por dia. Neste ritmo, até amanhã estou em Curitiba, fazendo em 5 dias o que levei 17 pra fazer na ida.

A grande decisão da saída seria que rumo seguir. Havia a alternativa de tentar entrar via Uruguay, provavelmente Colon, o que me encurtaria o caminho em uns 150 km. Ou então, seguir direto a Uruguaiana e de lá, até Passo Fundo. Num posto antes de Cólon, recebo a informação de uma família de argentinos que a fronteira está aberta até as 20h daquele dia, o que, portanto, faria valer a pena a entrada no Uruguay...

Doce ilusão... saí da Ruta 33 na altura de Cólon e fui até a ponte internacional. Sem exagero, havia uns 3 km de fila de carros esperando para passar na alfândega e cruzar a ponte... bye, bye Uruguai. Fiz meia volta e retomei o rumo de Uruguaiana, pois o tempo pra percorrer os quilometros extras, seguramente seria inferior ao que eu ia gastar naquele inferno pra cruzar a fronteira.

Hoje os policiais resolveram ir a forra. Até aqui, não havia sido parado em nenhuma barreira daquelas de pedir documento, carta verde, etc. Só naquelas pentelhas que paravam todo mundo lá pra baixo pra pedir os dados pra "controle" deles. Hoje me pararam 4 vezes. Em duas situações, zero de problemas. Em outras duas, tentativas explícitas de achaque (finalmente, dois poiliciais argentinos me mostraram a face negativa da polícia daquele país, já reportada em várias oportunidades por outros companheiros motociclistas). O primeiro, olhou minha documentação, conferiu placa, etc. e me disse: "o sr. não estava com a luz baixa acesa quando lhe parei.". Olhei pra cara dele meio que achando que eu tava entendendo errado e ele repetiu a mesma coisa. Aí tive que rir... Pedi educada e gentilmente a ele que se aproximasse da moto e lhe mostrei o que acontece automaticamente, independente da minha vontade, quando giro a chave da V-Strom. A luz se acende, queira eu ou não. E portanto, era absolutamente impossível que eu estivesse rodando com as luzes desligadas, a não ser que a moto também estivesse desligada. Nesse caso, eu teria que estar na popular "banguela". Entetanto, como ele me parou numa subida, acho que ele concluiu que seria uma forçada de barra muito grande e me mandou embora.

No segundo episódio, o elemento, policial de trocentos anos de estrada estampados no rosto e nos trejeitos, olhou meus documentos, analisou a papelada, olhou nos meus olhos e perguntou: "o sr. está levando o extintor de incêndio? ". Esse talvez seja o achaque mais conhecido pelos motociclistas brasileiros que viajam pela Argentina. A legislação exige o extintor nos CARROS e não ans MOTOS. Mas ao perguntar esse disparate a um motociclista desavisado, isso pode gerar confusão e a necessidade de se aplicar a famosa "multa", que deve sempre ser paga na hora, de preferência em dólar... Felizmente eu estava preparado, avisado e vacinado e quando o cidadão me fez a pergunta fatídica, respondi na lata, sem piscar nem pestanejar, mais uma vez, em alto e bom portunhol: "no, porque no lo necessito!!!!!". O fiz com a minha melhor expressão de confiança. Ele me olhou e perguntou se eu viajava sempre por ali. Respondi que sim, e ainda usei de um artíficio pra deixar a coisa mais convincente: disse a ele que era amigo do consul da Argentina em Curitiba, que jogava tênis com ele no mesmo clube, e que antes de viajar havia perguntado diretamente a ele tudo que eu deveria saber para cruzar a Argentina com segurança. Não sei se dá pra generalizar, mas nesse caso, a coisa funcionou que foi uma beleza. O elemento me devolveu os documentos, me desejou boa viagem e segui meu rumo, com um certo "orgulho" de ter dado uma invertida naquele policial sacana.

Atravessei a frontei em Uruguaiana com absoluta tranquilidade, não gastando mais que 10 minutos para pegar o carimbo de saída no passaporte. Entrei no Rio Grande do Sul e imediatamente notei que estava no Brasil... Estradas em péssimo estado de conservação, terrivelmente esburacadas (cadê o tal programa emergencial de recuperação de estradas?), movimento intenso, curvas e mais curvas. Mas estava no Brasil-sil-sil, e isso compensava qualquer coisa. Cheguei até São Luiz Gonzaga, na rota das missões no RS, e por aqui vou amarrar o bode por hoje, pra amanhã, quem sabe, chegar ao final da aventura.

ROTEIRO: Casilda - Victoria - Rosario Del Tacla - Colon - Concordia - Paso de Los Libres - Uruguaiana - Itaqui - São José - São Luiz Gonzaga
KM: 1019,56 km percorridos hoje - 11642,32 km percorridos no total

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