Monday, January 22, 2007

NÚMEROS E CURIOSIDADES

Ao lado, a rota percorrida, mapeada pelo GPS Garmin Vista CX Color, cortesia do amigo Waldyr!

E a seguir, números finais da viagem, documentados dia a dia, posto a posto, quilômetro a quilômetro:


Tempo total na moto: 218 horas e 54 minutos
Tempo rodando: 154 horas e 15 minutos
Tempo parado: 64 horas e 39 minutos

Média horária em movimento: 80,72 km/h

Média real, incluindo tempo parado: 59,28 km/h

Km total: 12.458 Km
Km no rípio: 1.506 Km

Consumo de combustível: 1.059,84 litros
108,10 litros no Brasil
204,69 litros no Chile
747,05 litros na Argentina

Gasto em Combustível: R$ 1.609,83
R$ 291,00 em Reais
$ 124.845 em Pesos Chilenos
$ 1.152,35 em Pesos Argentinos

Média de consumo: 11,79 Km/l

Velocidade máxima atingida no percurso: 181 km/h

Manutenções realizadas:
Troca de óleo e filtro em Santiago: dia 5 - 3.150 km percorridos
Troca de óleo em Comodoro Rivadávia: dia 21 - 8.682,6 km percorridos
Substituição do pneu traseiro em Rufino: dia 22 - 10.392 km percorridos
Lubrificação de corrente ao longo de toda a rota, em média, duas vezes ao dia
Conserto do suporte do espelho esquerdo com Silver Tape em Tres Lagos : dia 13 - 6.220 km percorridos
Conserto do pára-brisas com super-bonder e resina em El Calafate: dia 15 - 6.390 km percorridos
Reaperto dos parafusos do suporte do espelho e eliminação do Silver Tape em Ushuaia: dia 19 - 7.280 km percorridos
Reaperto dos parafusos dos suportes dos bagageiros Givi: em Coihaique (dia 11 - 5.250 km) e em Rufino (dia 22 - 10.392 km)
Substituição do parafuso do protetor da corrente em Coihaique: dia 11 - 5.250 km percorridos

Thursday, January 18, 2007

DIA 24 - SÃO LUIZ GONZAGA - CURITIBA



CHEGUEI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Em apenas 5 dias, consegui cumprir o trajeto de 5.155 km de Ushuaia a Curitiba, com a rota passando por Uruguaiana (via Buenos Aires deve ser um pouco mais perto). Média de mais de 1.000 km por dia.

Saí de São Luiz Gonzaga um pouco mais tarde, a exemplo de ontem. Mas na saída, um susto. A corrente tremia feito vara verde. Barulho e mais barulho. Olhei e a bicha tava totalmente solta, pendendo sobre o escapamento. Me lembrei que na noita anterior havia passado por uma Yamaha na entrada da cidade e fui pra lá. Ajustamos a tensão da corrente, mas foi o ajuste derradeiro. Daquele ponto em diante, não havia mais o que fazer, a relação já estava mesmo pedindo água. Mas deveria chegar em Curitiba, não seria possível que eu ficaria na mão tão próximo do destino final.

Cheguei a Passo Fundo, chequei a corrente, parecia continuar afrouxando... Daí em diante, ritmo bem lento, não acima dos 100 km/h. Pouco antes das 16h, entrei no Paranazão, nas proximidades de União da Vitória, e as 19h17m, estava de volta ao ponto zero, exatamente onde comecei a viagem, 24 dias atrás.

Nos próximos dias, ainda postarei aqui uma série de informações adicionais sobre a viagem, como distâncias, consumo, custos, etc. A idéia, é que este blog fique como um registro desta aventura solitária com o intuito de servir de referência para outros motociclistas que pretendam cruzar os mesmos caminhos e que, principalmente, contribua para inspirar outras pessoas, motociclistas ou não, a irem atrás das suas próprias viagens.

Essa foi uma viagem de intenso aprendizado e auto-conhecimento. Costumo dizer aos amigos que o motociclismo é a minha principal terapia, porque quando se está na moto, não há pra onde fugir. Estamos lá, por extensos períodos na estrada, apenas eu e eu. E nesta viagem, durante as longas horas de reflexão, de asfalto, de rípio, de carretera austral e de Ruta 40, entre tantas outras coisas que me ocorreram, uma me parece essencial: "a estrada mais difícil de trilhar, e aquela que mais coragem exige, é sempre a mesma: aquela que está dentro nós mesmos..."

Viajar é preciso!
amccosta@gmail.com

ROTEIRO: São Luiz Gonzaga - Carazinho - Passo Fundo - Irani - União da Vitória - São Mateus do Sul - Lapa - Curitiba
KM: 850,98 km percorridos hoje - 12.458 km percorridos no total

DIA 23 - CASILDA (ARG) - SÃO LUIZ GONZAGA (BRASIL-SIL-SIL-SIL)


Dia do retorno à Terra Pátria...

É interessante a sensação que sempre tenho quando volto pro Brasil após algum tempo em outro país. Criticamos, reclamamos, achamos defeito em muitas das coisas que nos cercam por aqui. Mas bastam alguns dias em outro lugar, pra esquecer todas as mazelas e enxergar as virtudes. E por mais que o tempo passe, essa sensação nunca deixa de se fazer presente.

Hoje saí um pouco mais tarde de Casilda, precisava dormir um pouco mais porque o ritmo dos últimos dias tem sido acelerado. Na média, tenho rodado 1100 km por dia. Neste ritmo, até amanhã estou em Curitiba, fazendo em 5 dias o que levei 17 pra fazer na ida.

A grande decisão da saída seria que rumo seguir. Havia a alternativa de tentar entrar via Uruguay, provavelmente Colon, o que me encurtaria o caminho em uns 150 km. Ou então, seguir direto a Uruguaiana e de lá, até Passo Fundo. Num posto antes de Cólon, recebo a informação de uma família de argentinos que a fronteira está aberta até as 20h daquele dia, o que, portanto, faria valer a pena a entrada no Uruguay...

Doce ilusão... saí da Ruta 33 na altura de Cólon e fui até a ponte internacional. Sem exagero, havia uns 3 km de fila de carros esperando para passar na alfândega e cruzar a ponte... bye, bye Uruguai. Fiz meia volta e retomei o rumo de Uruguaiana, pois o tempo pra percorrer os quilometros extras, seguramente seria inferior ao que eu ia gastar naquele inferno pra cruzar a fronteira.

Hoje os policiais resolveram ir a forra. Até aqui, não havia sido parado em nenhuma barreira daquelas de pedir documento, carta verde, etc. Só naquelas pentelhas que paravam todo mundo lá pra baixo pra pedir os dados pra "controle" deles. Hoje me pararam 4 vezes. Em duas situações, zero de problemas. Em outras duas, tentativas explícitas de achaque (finalmente, dois poiliciais argentinos me mostraram a face negativa da polícia daquele país, já reportada em várias oportunidades por outros companheiros motociclistas). O primeiro, olhou minha documentação, conferiu placa, etc. e me disse: "o sr. não estava com a luz baixa acesa quando lhe parei.". Olhei pra cara dele meio que achando que eu tava entendendo errado e ele repetiu a mesma coisa. Aí tive que rir... Pedi educada e gentilmente a ele que se aproximasse da moto e lhe mostrei o que acontece automaticamente, independente da minha vontade, quando giro a chave da V-Strom. A luz se acende, queira eu ou não. E portanto, era absolutamente impossível que eu estivesse rodando com as luzes desligadas, a não ser que a moto também estivesse desligada. Nesse caso, eu teria que estar na popular "banguela". Entetanto, como ele me parou numa subida, acho que ele concluiu que seria uma forçada de barra muito grande e me mandou embora.

No segundo episódio, o elemento, policial de trocentos anos de estrada estampados no rosto e nos trejeitos, olhou meus documentos, analisou a papelada, olhou nos meus olhos e perguntou: "o sr. está levando o extintor de incêndio? ". Esse talvez seja o achaque mais conhecido pelos motociclistas brasileiros que viajam pela Argentina. A legislação exige o extintor nos CARROS e não ans MOTOS. Mas ao perguntar esse disparate a um motociclista desavisado, isso pode gerar confusão e a necessidade de se aplicar a famosa "multa", que deve sempre ser paga na hora, de preferência em dólar... Felizmente eu estava preparado, avisado e vacinado e quando o cidadão me fez a pergunta fatídica, respondi na lata, sem piscar nem pestanejar, mais uma vez, em alto e bom portunhol: "no, porque no lo necessito!!!!!". O fiz com a minha melhor expressão de confiança. Ele me olhou e perguntou se eu viajava sempre por ali. Respondi que sim, e ainda usei de um artíficio pra deixar a coisa mais convincente: disse a ele que era amigo do consul da Argentina em Curitiba, que jogava tênis com ele no mesmo clube, e que antes de viajar havia perguntado diretamente a ele tudo que eu deveria saber para cruzar a Argentina com segurança. Não sei se dá pra generalizar, mas nesse caso, a coisa funcionou que foi uma beleza. O elemento me devolveu os documentos, me desejou boa viagem e segui meu rumo, com um certo "orgulho" de ter dado uma invertida naquele policial sacana.

Atravessei a frontei em Uruguaiana com absoluta tranquilidade, não gastando mais que 10 minutos para pegar o carimbo de saída no passaporte. Entrei no Rio Grande do Sul e imediatamente notei que estava no Brasil... Estradas em péssimo estado de conservação, terrivelmente esburacadas (cadê o tal programa emergencial de recuperação de estradas?), movimento intenso, curvas e mais curvas. Mas estava no Brasil-sil-sil, e isso compensava qualquer coisa. Cheguei até São Luiz Gonzaga, na rota das missões no RS, e por aqui vou amarrar o bode por hoje, pra amanhã, quem sabe, chegar ao final da aventura.

ROTEIRO: Casilda - Victoria - Rosario Del Tacla - Colon - Concordia - Paso de Los Libres - Uruguaiana - Itaqui - São José - São Luiz Gonzaga
KM: 1019,56 km percorridos hoje - 11642,32 km percorridos no total

DIA 22 - VIEDMA - CASILDA


Saí de Viedma empolgado com a perspectiva de estar cada vez mais próxima de casa. É engraçado... até chegar lá em Ushuaia, a viagem é uma curtição... a partir do início da volta, a vontade é de chegar o mais rapidamente possível. Rumei para Baia Blanca considerando trocar o pneu por lá. Mas, chegando lá, analisei as condições do Michelin e entendi que ele ainda tinha alguma lenha pra queimar. Assim sendo, deixei pra trocar o pneu em Rosário, que seria meu destino final do dia, uma vez que Rosário é uma cidade ainda maior (aumentando a probabilidade de achar o pneu facilmente) e que, indo direto, eu chegaria lá ainda bem cedo, com tempo de sobra pra efetuar a troca e ficar pronto para o dia seguinte. Bad, bad decision...

Saí de Baia Blanca e toquei rumo ao Norte, em ritmo forte, a essas alturas, já com calor forte na nuca, pois o frio do Sul já havia ficado pra trás há tempos. Lá pelo meio do caminho de cerca de 800 km até Rosário, parei pra abastecer e me assustei com a análise do pneu. O que ainda restava de borracha havia ido, e já se via a lona em vários pontos do pneu. Provavelmente, o ritmo forte e o calor exagerado aceleraram ainda mais a deterioração do pobre Anakee. Hora de pensar no plano B. Perguntei a algumas pessoas que estavam abastecendo qual o próximo município grande, me indicaram um tal de Rufino. A essas alturas, eu dividava que em "Rufino" fosse ter pneu pra moto grande, mas não tinha muita alternativa. Chegando em Rufino, parei novamente pra abastecer e constatei que dali não dava mesmo pra passar. Entrei na cidade, perguntei numa loja razoavelmente grande de pneus se tinha pneu pra moto. O cara fez uma careta desconcertante e disse que, se houvesse, seria numa loja que vende coisas pra moto há umas 8 quadras dali. Lá fui eu...

Cheguei na tal loja de moto, e a dita cuja parecia uma mercearia de sítio. Daquelas com tudo que é tipo de coisa pendurada e empoeirada. Entrei e perguntei em alto e bom portunhol: "Hola senhor. Tiene cubiertos? ". O velhinho que tava no balcão respondeu sem titubear: "Sí, claro! Que medida necessitas?". Achei que ele tava me gozando... olhei em volta e não vi um único pneu... mas tudo bem, passei a medida pra ele. Ele me fez sinal para acompanhá-lo. Abri caminho por entre caixas e mais caixas e, ao passar por uma portinhola, me senti como o Neo no primeiro Matrix, quando o Morpheus apresenta a ele aquele arsenal incontável de armas. Me vi no meio de uma sala lotada, forrada, indescritivelmente sortida com pneus de tudo quanto é tipo e tamanho. Em 30 segundos, saía da sala com um Pirelli novo em folha, made in Brazil, por sinal.

O próximo capitulo seria a troca do pneu. O mecânico, um rapazito quase do meu tamanho em altura e largura, extremamente bem intencionado, não tinha como tirar o pneu da roda. Precisava ir até aquela loja que vendia pneu de caminhão onde haveriam ferramentas apropriadas para a tarefa. Ele me perguntou se eu podia ir com ele, claro que eu disse que sim. Ele me deu um pneu (o que ainda estava na roda) e levou o outro. Saímos caminhando. Achei que íamos a pé... entretanto, chegando na esquina, o elemento literamente monta numa moto 125 cc, estilo CG, mas daquelas da década de 80, caindo aos pedaços, e fica olhando pra minha cara. Demorei alguns segundos pra entender o que estava acontecendo, mas pra resumir, montei na garupa do cidadão e lá fomos nós, a CGzinha cuspindo marimbondo com o esforço descomunal de arrastar pelas ruas de Rufino aqueles dois mastodontes. Até que foi divertido...

Quanto tiramos o pneu da roda vi que, realmente, e mais uma vez, eu dei muita sorte. O pneu Michelin n ao tinha mais que uma finíssima camada de borracha, da última camada do pneu, aquela interna que é onde o ar fica retido nos pneus sem câmara. Aquilo, provavelmente, estouraria em não mais que 20 quilômetros (e o próximo município depois de Rufino ficava 130 km adiante...). O fato pitoresco é que enquanto aguardava a troca do pneu, passa um autêntico João Cana Brava argentino montado numa bicicleta. Vê a moto e se encanta. Quer de todo jeito trocar a moto pela bicicleta. Pra finalizar, antes da despedida, segurando forte minha mão num cumprimento "emocionado", o pau de cana declama, emocionado, uns 5 minutos de algo que pareciam poesias portenhas, sem que eu, infelizmente, conseguisse entender uma única palavra. Apesar disso, a emoção do bebum parecia autêntica e era até bonito vê-lo declamando. Como eu não entendia patavinas, fiquei olhando pra cara dele com aquela cara de paisagem até que ele enjoasse da ladainha e seguisse o seu caminho. Mas que foi interessante, isso foi!

Troca feita, lá fui eu rumo a Rosário. Perto de Rosário, uns 50 km antes, passei por uma cidadezinha na margem da rodovia chamada Casilda. Resolvi entrar a procurar hotel por ali ao invés de ir até Rosário, pois lá, com certeza, eu perderia tempo considerável para entrar e sair da cidade. Na entrada, parei numa loja de motos e pedi pro mecânico checar a corrente, pois eu tava achando que tava meio frouxa. Ele disse que não, lubrificou a corrente e me indicou hotel. Quando saí pra ir pro hotel, um senhor em uma camionete me abriu caminho, deu sinal de luz, fez a maior festa. Agradeci, e segui pro hotel, umas 12 quadras distante dali. Quando paro no hotel, vejo que o senhor fez todo o caminho me seguindo. Ele desce da camionete, vem até mim sorrindo e se diz apaixonado por motos, diz que ele tem moto, o genro tem moto, o cunhado tem moto, o filho tem moto, é praticamente toda uma dinastia de motociclistas. Pergunta da moto, diz que nós brasileiros somos felizardos por termos motos grandes para comprar e ficamos uns bons 10 minutos num amistoso papo sobre motocicletas.

Encontro o hotel, saio pra mandar um Entrecot ao Roquefort que foi uma excelente pedida pra última noite de Argentina e durmo já sonhando com a chegada a Curitiba e mais dois ou tres dias...

ROTEIRO: Viedma - Baia Blanca - Pigué - Trenque/Lauquen - Rufino - Murphy (sim, é isso mesmo, lá deve ter nascido o tal da lei...) - Casilda
KM: 1027,48 km percorridos hoje - 10622,76 km percorridos no total

Monday, January 15, 2007

DIA 21 - PT SAN JULIAN - VIEDMA


Dia de estrada. MUITA estrada. 1300 km.

Sem grands novidades. Apenas um trecho da Ruta 3 que acompanha o oceano de perto, nos arredores de Comodoro Rivadávia (na maior parte do tempo, ela percorre paralela ao Oceano mas não é possível vê-lo da estrada), que é lindíssimo, não fica devendo em nada a algumas estradas bacanas onde já rodei de moto, como a US01 nos EUA ou a que liga Cidade do Cabo ao Cabo da Boa Esperança. Falésias, mar intensamente azul, realmente bacana.

Também troquei o óleo da moto, sozinho, já que domingo quase nada abre. Tive que improvisar um funil pra não desperdiçar óleo, o que foi feito a partir de uma embalagem de suco tetrapak e do bom e velho canivete suiço, que produziu um cone em perfeita sintonia com o bocal de óleo do motor! :-D

Consegui chegar até Videma, o que me coloca a menos de 1000 km de Buenos Aires e, portanto, a menos de 3000 km de Curitiba. A volta tá rendendo que é uma maravilha.

Amanhã terei apenas um pequeno contratempo: terei que entrar em Bahia Blanca (cidade grande, pelo que me informaram de cerca de 2 milhões de habitantes) para tentar achar um pneu traseiro. Os Michelin Anakee realmente não aguentaram o tranco e com menos de 10.000 km estão pedindo água.

ROTEIRO: Pt San Julian - Tres Cerros - Calleta Olivia - Comodoro Rivadavia - Garayade - Uzcúdun - Trelew - Pto Madryn - Sierra Grande - San Antonio Oeste - Viedma
KM: Insanos 1316,77 km percorridos hoje - 9595,28 km percorridos no total

DIA 20 - USHUAIA - PT SAN JULIAN


Dia de estrada. 940 km rodados, e só não foi mais por causa das 4 fronteiras até sair da Argentina, entrar no Chile, sair do Chile, voltar pra Argentina. Provavelmente por ser sábado, a coisa estava ainda mais complicada, só na última fronteira se foram quase 2 horas na fila pra colocarem o carimbo no passaporte.

Dia de vento. Muito vento. Mais que na ida. Mas foi bom, porque o pneu traseiro já tá próximo do fim, então, só gastei as laterais, já que a moto anda de lado...

Dia de sorte. Muita sorte. O trecho entre Rio Gallegos e San Sebastian tem cerca de 280 km sem posto de gasolina. Na ida, a DL chegou meio no osso, mas chegou. E eu fui sentando a botina no trecho asfaltado (esse é o trecho que tem os 120 km de rípio antes de chegar a Ushuaia) e ela chegou. Na volta, já sabendo dos 280 km de rípio, manerei no asfalto pra chegar tranquilo... Não chegou! O vento lateral e de frente jogaram o consumo nas alturas, e há uns 40 km de Rio Gallegos, a reserva começou a piscar alucinadamente. Reduzi ainda mais o ritmo e passei a rodar com o giro mais baixo possível e em torno de 80 km/h. Há 10 km de Rio Gallegos, pra completar, os guardinhas fazendo barreira pra pegar nome, origem, destino, número de identidade, CPF, tipo sanguíneo, etc. Aliás, nesta região, em todo posto policial é essa rotina pentelha. No último, já puto da vida porque ter que dar partida novamente na moto me consumiria preciosos ml de gasolina, perguntei ao indivíduo qual o uso daquelas informações e ele me respondeu que nenhum, é apenas para controle deles. Em outras palavras, no meu dicionário, isso se chama "falta do que fazer". Mas enfim, parei, liguei a moto, e lá fui eu. Já na saída do posto policial, ela começou a engasgar...

Os 9 km do posto até Rio Gallegos foram percorridos com a DL engasgando feito louca. E eu rezando pra chegar logo... Cheguei a umas 8 quadras do posto, e não teve mais jeito. Quando ela já tinha apagado e eu apenas aproveitava o embalo inercial, eis que surge à minha direita uma concessionária da Honda! Não tive dúvidas: embiquei, pedi gasolina ao dono e ele gentilmente, resolveu meu problema e cheguei até o posto com muita sobra. Nessa, reconheço, dei muuuuuuuuuuita sorte... Que ela continue me acompanhando!

Em Pt San Julian, cidadezinha de 10.000 habitantes ainda na Patagônia Argentina, quando peregrinava atrás de hotel encontrei um grupo de uns 12 motociclistas americanos que estavam se registrando num dos hoteís onde tentei quarto. Nos cumprimentamos e vazei, já que não dava pra ficar lá mesmo e ainda tinha que achar onde dormir.

Encontrei em seguida, deixei as malas e sai pra jantar. Quem encontro no restaurante? O grupo de americanos. Pessoal bacana, fez a maior festa, me convidaram pra sentar com ele e ainda pagaram toda a conta. Gostei... jantinha por conta do tio Sam! Os caras devem ser muito bem de vida, porque sempre que é inverno no hemisfério norte, eles despacham as motos pro hemisfério sul pra algum lugar onde seja verão... Nada mal...

Nota triste: quando estava há uns 15 km do destino final de hoje, vi um acidente que acabara de acontecer, uns 3 caminhões já haviam parado para ajudar mas não havia muito o que se fazer além do que já tinham feito a não ser buscar ajuda. Dois carros bateram de frente (não sei bem como, já que a estrada é uma reta sem fim...), e a cena que vi não era agradável. Haviam crianças nos dois carros, pelo menos uma pessoa seguramente morta, gritos, choro das crianças. Fiquei, sinceramente, abalado. Entristecido e reflexivo sobre a fragilidade da vida em algumas circunstâncias. 5 minutos antes aquelas pessoas estavam todas vivas, e por alguma fatalidade, algumas daquelas crianças ficaram sem mãe. Se houvesse Internet no hotel ontem, eu seguramente teria feito um longo texto sobre essas "fatalidades". Ainda bem que não tinha...

ROTEIRO: Ushuaia - Rio Grande - San Sebastian - Rio Gallegos - Piedra Buena - Pt San Julian
KM: 940,7 km percorridos hoje, dos quais, 120 km no rípio - 8278,5 km percorridos no total

Friday, January 12, 2007

DIA 19 - USHUAIA


Hoje, blog sem til porque nao consegui conectar o notebook na internet do pousada e o jeito foi usar o computador daqui, com essa &%$&$···""$$%$ de teclado Argentino. Mas hoje o update é breve.

Dia de relax total em Ushuaia. Passear pelas ruas sem pressa, sem compromisso com roteiros turísticos. Apenas observar a vida como ela é por aqui. Embora, observar a vida como ela é aqui pressuponha observar o movimento dos turistas. Nesta época, de verao aqui, a cidade fica constantemente lotada de turistas num entra e sai agitado de bares, cafés, restaurantes e lojas. Gente de tudo quanto é jeito, de tudo quanto é lugar. E numa atmosfera como esta, investir tempo simplesmente observando as pessoas torna-se um passatempo interessante.

Fui também ao Museo del fim del mundo. Legalzinho, mas dispensável. Tem um monte de passarinho empalhado, uns apetrechos de índios, de barcos afundados e that´s all. De interessante, apenas descobrir que na transiçao dos barcos a vela para motor, na revoluçao industrial, um monte de navios afundaram na costa dos mares do sul. O que se sabe hoje, é que muitos naufrágios foram simulados, os donos mandavam os barcos pra cà e afundavam o bicho no fim do mundo, porque isso praticamente impedia a cia de seguros de investigar e eles recebiam a grana e, com isso, poderiam comprar navios novos, a motor. Como se vê, sacanagem existe desde que o mundo é mundo, até nestes confins...

Encontrei o Chico (o gaúcho de nova Petrópolis) na rua hoje. Estava andando tranquilamente pela San Martin (rua principal) quando vejo o Chico passando na Super Tenere. Saí gritando e correndo feito um demente atrás dele na rua, até que ele ouviu e conversamos. Ele já estava indo hoje. Chegou ontem, já foi hoje, achei meio rápido demais, ele acabou nao conhecendo quase nada por aqui, mas cada um no seu próprio ritmo, esse é o princípio de tudo. A parte ruim foi ter perdido a esperança de contar com o companheiro de copo pra hoje! :-(

Cheguei cedo no hotel, trazendo na sacola um Luigi Bosca reserva especial pra fechar com chave de ouro, uns queijos de cabra, uns salames de cordeiro e vou chafurdar no Merlot por aqui mesmo pra amanha pular de madrugada descansado e começar o caminho de volta.

Abraços!!!!

DIA 18 - USHUAIA


Dia de turismo light.

Pela manhã fui conhecer o Museo Marítimo e Penitenciário. Um local que vale a pena conhecer. Paga-se 18 pesos pela entrada, que vale com sobrar. O Museu fica no prédio onde funcionava o presídio de Ushuaia. Parte está com as celas razoavelmente restauradas, para abrigar exposição de objetos, artefatos, documentos, "bonecos" de priosioneiros famosos. Outra parte, está preservada no estado em que estava à época para se ter idéia de quais eram as condições dos presos. Muita história sobre Ushuaia, sobre a construção do presídio, fotos antigas , enfim, uma aula de história in loco. Valeu a pena.

Antes de ir ao Museu havia passado no porto turístico para ver as opções de passeios pelo Canal de Beagle. Existem várias alternativas, algumas de cerca de 4 horas bavegando pelas ilhas dos lobos (cheia de lobos marinhos), dos pássaros (adivinhem cheia do que...) e pelo farol do fim do mundo; outras de 6 horas, incluindo no roteiro uma ida até uma pinguineira. Diversos tipos de embarcação também, desde modernos catamarãs, passando por veleiros meia boca até chegar no primeiro barco que começou a fazer este passeio, parece um daqueles barcões que navegavam no Mississipi e que aparecem no filme Maverick (Mel Gibson, Jodi Foster). Evidentemente, optei pela alternativa mais "interessante" em termos de adrenalina. Embarcar em um veleiro de competição para 4 pessoas, fazendo parte da tripulação, para velejar de verdade. Tudo combinado, saída as 15h, fui ao Museu, comi um cachorro quente no caminho pro porto e na hora que cheguei lá... Porto fechado para embarcações pequenas! Ventos muito fortes, de até 85 mph em mar aberto, inviabilizaram a aventura à vela.

O jeito foi voltar pro porto turístico de carona com o capitão do veleiro pra conseguir pegar um passeio mais convencional. Embarquei num catamarã, grande, confortável, com serviço de bordo e o cacete, pra fazer o passeio longo, até a pinguineira. Seis horas de navegação, mas valeu a pena. Tinha prometido pro Lucca que ia levar foto de pinguim pra ele, tinha que cumprir... ele vai ter foto de pinguim pra ver por uns tres meses, fotografei pinguim de tudo quanto é jeito!

O catamarã chega tarde, por volta das 21h. Banho, baixar fotos, jantar (tenedor libre, o mesmo que o nosso espeto corrido... chafurdei no cordeiro!!!!) e dormir. A programação original previa começar a voltar amanhã, mas próximo daqui, resolvi tentar começar a voltar hoje. Pesquisei os guias para ver hotel em Rio Grande, mas as informações são de que os hotéis por lá são caros e decadentes. Portanto, manterei o plano original. Durmo aqui mais esta noite e amanhã de madrugada começo o retorno. Só quero ver o frio e o vento que me aguardam as 6h da manhã...

Recebi notícias do Chico e do Eloi hoje. O Chico chegou aqui ontem a noite, vou tentar encontrá-lo hoje. O Elói ficou em Rio Gallegos esperando e descansando. Eles pegaram uma pedreiras brabas pelo caminho, o Elói foi pro chão outra vez, o Chico quase foi, e o Chico chegou aqui sozinho pra pegar o Elói na volta. Espero encontrá-lo pra ter companhia pra uma birra no fim do mundo.

Thursday, January 11, 2007

DIA 17 - EL CALAFATE - USHUAIA


CHEGUEI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Objetivo cumprido, no prazo previsto, conforme planejado! Depois de:

  • Exatos 7272,7 km rodados
  • 575 litros de gasolina
  • 108,35 reais; 528,55 pesos argentinos; 124.845 pesos chilenos gastos em combustível
  • 137 horas 19 minutos viajando, dos quais:
    90 horas e 47 minutos sentado na moto em movimento
    46 horas e 32 minutos com a moto na estrada mas parado descansando, passando em fronteira, pagando pedágio
  • Velocidade máxima atingida em todo o percurso de 181 km/h
  • Média horária em movimento de 76,84 km/h
  • Média horária real, considerando paradas de 51,25 km/h

CHEGUEI A USHUAIA ONTEM, AS 19h30m.

Pulei da cama as 5h da manhã, pra enfrentar os 900 km até Ushuaia, dos quais, 120 de rípio. Além, é claro, das 4 fronteiras (pra chegar a Ushuaia tem que passar pelo Chile... aí já viu, sai da Argentina, entra no Chile, roda 200 km, sai do Chile, volta pra Argentina...).

Estrada tranquila, asfalto bom, comportamento da moto absolutamente inalterado depois do tombo, tudo correndo às mil maravilhas. Sair de madrugada tem a vantagem de que a pilotagem nas primeiras horas da manhã é tranquila porque não tem movimento e tem-se a impressão de que o dia rende mais. Mas o frio...

Ventava muito! E a temperatura que já era baixa, tornava-se à beira do insuportável pra qualquer parte do corpo humano exposta ao frio. No meu caso, apenas o queixo, no vão entre o capacete e a jaqueta... Senti que se desse um peteleco ali ia quebrar, aí resolvi parar pra pegar uma blusa daquelas com gola comprida (cacharrel é o cacete!!!!), e pra isso, tive que tirar as luvas. Resumo da ópera: resolvi o problema do queixo, e congelei as mãos! Impressionante, mas congelou mesmo, apenas 2 minutos com elas expostas à ação do vento. Atenção motociclistas: jamais saiam de casa sem balaclava quando estiverem na patagônia!!!!

O trajeto até Rio Gallegos, primeira parada a cerca de 300 km de El Calafate foi tranquilo. De Rio Gallegos faz-se a travessia da fronteira e pega-se o ferry de Punta Delgada a Puerto Espora, uma travessia rápida, de uns 20 minutos, na faixa, ninguém cobra nada.

De lá, pelo território chileno, uns 120 km de rípio até a fronteira para voltar pra Argentina, em San Sebastian. De lá, pouco mais de 300 km, todos de asfalto, passando por Rio Grande até chegar a USHUAIA!!!!!!!

O tempo todo, o vento foi o maior adversário. Pra ser sincero, achei que a pilotagem da moto nessas condições seria pior. Ela não chega a assustar, mas impressiona a força do vento e o fato da moto ter que andar de lado, inclinada, o tempo todo. Quem mais sofre é o pescoço, que tem que fazer força o tempo todo pra segurar a cabeça em cima do corpo. E o vento também gera episódios interessantes... na fronteira para reentrar na Argentina peguei um monte de informação sobre Ushuaia e coloquei na mala traseira. Parei depois em Rio Grande para abastecer e comer alguma coisa, e quando abri a mala, os papéis voaram todos... imagina videocassetada, o babaca correndo atrás dos papéis, tentando pisar pra segurar, não conseguindo, correndo atrás de novo, e por aí vai... alguém tinha que ter filmado isso. Mas consegui resgatar tudo!!!! :-D

No caminho, um fato inusitado. Num ponto do trecho de 120 km de rípio, no final de uma reta que antecedia uma curva, vi de longe algo diferente. Parecia que a estrada tinha mudado de cor, um negócio meio estranho. Quando cheguei mais perto, vi que era um rebanho de ovelhas. Não um rebanhozinho qualquer, mas um verdadeiro mar de ovelhas, com os gauchos (sem acento mesmo...) e os cãos pastores tocando as bichas pela estrada. A única forma de atravessar era literalmente ir abrindo caminho no meio daquele mar de ovelhas. Um casal de brasileiros que viajava num Civic que eu havia ultrapassado na estrada e que encontrei posteriormente na aduana argentina disse que me fotografou no meio daquela ovelharada e ficou de mandar a foto. Tomara que mandem mesmo, vai ficar interessante!

Encontrei vários motociclistas pelo caminho, a maioria voltando. Na saída de El Calafate uma dupla de gaúchos de V-Strom voltando para POA. Vários na estrada e na fronteira, uma dupla também de gaúchos (só dá gaúcho aqui... sem trocadilhos... :-D), voltando com uma XT600 e uma Dragstar, sendo que o da Drag já tinha, segundo ele, "comprado um lote" no rípio também. levar chão pra esses lados realmente parece mais comum do que eu imaginava.

A Terra do Fogo, cuja cidade mais ao Sul é Ushuaia, possui um cenário interessante. Meio de estepe, vegetação rasteira, apenas nas proximidades de Ushuaia mudando para características de montanha. Nas proximidades de Ushuaia, várias estações de esqui e hotéis de montanha, neste época, quase todos desativados.

Os últimos 50 km foram feitos em ritmo bem lento... De forma inconsciente, soltei o acelerador e fui devagar, curtindo a paisagem, mas principalmente, saboreando cada pedaço de quilômetro dos últimos que me separavam de Ushuaia... As curvas, as montanhas, os carros em sentido contrário, o vento gelado, algumas lágrimas borrando a visão por dentro do capacete... Prestava atenção em cada detalhe, daqueles que a gente não observa na velocidade da estrada. Que tesão! Eu estava chegando a Ushuaia. 17 dias depois de sair de Curitiba, sozinho, com um tombo pelo caminho. Aliás, que bom que bom que a Ruta 40 me jogou pro chão. Do contrário, talvez eu não valorizasse tanto chegar até aqui. Tudo teria dado muito certo, e assim não tem graça! Na chegada, lembrei várias vezes que eu quase não chegava até ali, quase ficava pelo caminho por um descuido besta, que em 10m poderia ter arruinado tudo que foi construído ao longo de mais de 7.000 km. Pode parecer piegas, mas nessas horas, muita coisa passa pela cabeça. Os sonhos que já foram e os que ainda virão, as pessoas que fizeram, fazem e farão parte destes sonhos, a dificuldade de realizá-los, mas principalmente, o puta tesão que é conseguir realizá-los e que, em última análise é o combustível para correr atrás: a sensação de ter conseguido, ao final, é absolutamente impagável!!!!

Não consigo explicar exatamente qual a razão do meu fascínio por longas viagens de moto. Me lembro da primeira vez em que senti desejo de ter uma moto (sim, à época, apenas desejo). Foi quando o Joel (graaaaande Joel!!!) comprou uma Shadow importada, quando elas ainda nem existiam no Brasil, e me chamou pra ver a moto. Fiquei hipnotizado por aquele objeto de metal, reluzente, que trazia à mente a imagem de grandes aventuras em duas rodas. Me lembro do primeiro grande "desafio" sobre duas rodas: chegar de Curitiba a Guaratuba montado na minha primeira Sahara. Depois, a época das motos custom, pelas quais ainda sou apaixonado (tanto que a Harley ainda tá lá na garagem, descansando...), o primeiro tiro maior até Vitória (já experimentando as viagens solo...), a aventura amadora com o grande companheiro Edu até Buenos Aires e Punta o ano passado (amadora porque os dois animais não tinham uma chave de fenda nas motos e acharam que com dois tubos de tirepando conquistariam o mundo!!! :-D...), até chegar às big trail e à vontade de ir longe, em estradas por onde poucos já rodaram e ao planejamento de fato para chegar à Ushuaia, feito em praticamente um mês (embora a vontade de ir até Ushuaia há tempos estivesse no ar, e a partir deste momento, já se está, ainda que insconscientemente, planejando). Mas o fato é que este fascínio sempre resulta em coisas boas, em conquistas pessoais que me fazem ir além de determinados limites de uma forma absolutamente natural, como se esta fosse a ordem natural das coisas. Como está idéia, que pareceu maluca pra quase todo mundo, de vir até o tal do fim do mundo sozinho. "Tá maluco!", "viajar pra lá sozinho!", "que coragem!". E o engraçado é que nunca, em momento algum, eu consegui enxergar grandes riscos nesta aventura, desde que ela fosse planejada de forma adequada. Não acho, de verdade, que tenha sido necessária muita coragem, ou correr riscos desnecessários. Penso apenas que com paixão, energia e vontade (não apenas desejo), a percepção do risco se modifica, a capacidade de realização se amplifica enormemente, e torna-se possível fazer coisas que não imaginamos.

Agora, vou conhecer a tal Ushuaia e ver que diabos tem aqui pra fazer a gente vir de tão longe pra esse lugar...

PS. 1: À galera que literalmente "viajou" comigo, mandando e-mails, SMSs, batendo papo no messenger pelos pubs da vida, valeu muito. Vocês não deixaram essa empreitada ser solitária em momento algum. Muit, mas muito obrigado pelo companhia.

PS. 2: Ao grande André Barbalho, pioneiro da exploração do fim do mundo sobre duas rodas, um abraço público. Já te disso isso ontem por SMS, mas repito aqui: você foi o grande inspirador e o maior incentivador desta aventura solitária. TODAS as vezes em que falei contigo a respeito você me disse que eu não podia deixar de "ir lá pra baixo" de jeito nenhum. Thanks, mate!

PS.3: Alguém tem informações sobre como despachar uma moto pro Alasca? Sim, porque pra descer do Alasca até Ushuaia (de novo Ushuaia...) cruzando as tres Américas de ponta a ponta, não dá pra comprar a moto nos EUA porque não dá pra importá-la pro Brasil depois de usada... portanto o único jeito é despachar pra lá. Alguém sabe como faço isso?????? ;-)

ROTEIRO: El Calafate - La Esperanza - Rio Gallegos - San Sebastian - Rio Grande - Ushuaia
KM: 879,1 KM percorridos hoje, dos quais 120 no ríprio - 7272,7 KM percorridos no total

DIA 16 - EL CALAFATE - PARQUE NACIONAL TORRES DEL PAINE (CHI)


O dia começou cedo, 5h da manhã, pra esperar o ônibus as 05h50m. Inconvenientes de excursões... o horário nunca é o seu, mas o deles. E como toda excursão, atrasou quase meia-hora pra passar no hotel em relação ao horário previsto. Mas fez parte.

O trajeto até o Torres del Paine dura quase 5 horas. Os trechos ripiados que existiam nos mapas praticamente não existe mais. É necessário dar uma volta um pouco maior mas dá ir com asfalto até Cerro Castillo (ao invés de dscer pela "famosa" Ruta 40, pega-se a Ruta 5 logo após El Cerrito e pega-se a Ruta 7 em Esperanza, para só bem próximo a Cerro Castillo novamente encontrar a Ruta 40), , que é uma estância (fazenda) que atingiu o status de "Villa", porque tem uns serviços pra turista e é como que a porta de entrada para o parque.

Antes, trabalhos de alfândega. Como enche o saco esse negócio de alfândega pra lá, alfandêga pra cá. Pra ir ao parque, é preciso pedir bença aos milicos de plantão 4 vezes. Sai da Argentina, entre no Chile, sai do Chile, entra na Argentina de volta... Umas 2 horas jogadas no lixo só neste processo.

Chegando ao parque, as paradas obrigatórias para fotos. Só achei a entrada salgada, 15000 pesos chilenos, o que dá uns 60 reais. Imaginei que aquilo devia ser a disneylandia dos parques nacionais... :-)

Na entrada do parque existe uma lagoa chamada laguna amarga, que tem esse nome devido à altíssima concentração de sal e metais na água. Segundo o guia, 4 vezes mais salgado que a água do mar, e se um ser humano beber da água, morre quase na hora (já aconteceu uns anos atrás, segundo o guia). Só que na beira da lagoa, Flamingos curtiam a réstia de sol que surgia entre as nuvens, e provavelmente, ninguém disse a eles que se beberem da lagoa morrerão na hora. Alguém perguntou ao guia como isso era possível. Ele disse, pelo que entendi, que os flamingos tem um sistema digestivo que separa o sal, um negócio meio maluco...

O parque propriamente dito é muito bonito. Imenso, com áreas para camping com vista para paisagens belíssimas. As áreas pra camping têm pequenos abrigos para as barracas. Uma solução interessante para proteger as barracas da chuva e do vento. Falando em vento, a ventania no parque é uma coisa impressionante. Ainda não tinha visto um vento daquele tamanho em lugar nenhum até aqui. Chega a desequilibrar um ser humano "chico" como eu.

O ônibus segue as rotas de visitação do parque. Passa pelos pontos bacanas e para para fotos. Guanacos na beira da estrada, cachoeiras, lagos e as famosas Torres del Paine, de granito, mas infelizmente quase que totalmente escondidas por entre as nuvens. Dessa vez, o tempo não colaborou. Tivemos que nos contentar com as fotos e as explicações do guia que descrevem as torres como o segundo ponto de escalada em rocha mais difícil do mundo (só perdendo para um cerro próximo ao Fits Roy, em El Chaitén), e onde, segundo ele, todos os anos, apenas 10% dos que tentam conseguem chegar ao topo de uma das torres (são três), 10% morrem e o resto fica pelo caminho. Achei meio exagerado, provavelmente a fonte deve ser a mesma daquela informação de que a água dos flamingos na lagoa amarga mata...

E falando em guia, mais uma dele: o Torres tem muito Puma, que devoram 70% dos guanacos que nascem todo ano. Ele disse que tem puma do Alasca até Ushuaia. Só muda o nome. Na califórnia é cougar. Na américa central é jaguar. No Brasil é onça. Até chegar ao Puma da patagônia... Ai, caramba!!!!!!

Parada para almoço numa pousada, mais voltas, mais fotos e that's all folks. Não sei se pelo fato do tempo não ter ajudado, mas sinceramente, não achei as belezas do Torres del Paine assim tão sensacionais. Sào coisas belíssimas, sem dúvida, mas talvez, eu ainda estivesse sob o impacto de tudo que vi na Carretera e arredores, e aí, talvez o parque tenha perdido parte de seu impacto.

O Descanso sim, este foi bom. Foram 3 dias sem moto, o que me deixou novo em folha. Além disso, as 10 horas de ônibus sem a necessidade de se concentrar na pilotagem da moto dão tempo pra pensar em muita coisa. Fui ouvindo música no iPod, e uma música do Cat Stevens, chamada father and son, diz, em meio aos conselhos do filho, que tenha calma e aproveite o seu tempo, porque mais tarde ele (seu filho) ainda estará lá, mas seus sonhos (os de seu filho) podem não estar... fiquei pensando nisso. Acho que o Cat Stevens tem razão. À medida em que envelhecemos, usualmente os sonhos tornam-se menos ousados, menores, menos propensos a correr certos riscos. E aceitamos isso como consequencia direta da maior experiência...

Ontem a noite, no pub, falei pelo messenger com o PHD Chico. (PHD = Proprietários de Harley Davidson). O Chico é meio que um guru, quase uma lenda, no meio dos PHDs. Até onde acompanho o grupo (e admito que acompanho bem pouco...) é o cara que movimenta o grupo, que todo mundo conhece. Eu não o conheço pessoalmente e nunca havia nem falado com ele pelo messenger, ele apenas me incluiu como seu contato após eu ter me cadastrado no site dos PHDs. Contei a ele da viagem e passei o endereço do blog me colocando a disposição para prestar informações a qualquer colega que tivesse interesse em fazer esta rota ou trechos dela, já que muito do que aparece nos mapas e guias está desatualizado. O Chico mostrou-se bastante amistoso, me desejou toda sorte do mundo e depois que já tínhamos nos despedido, ele mandou a seguinte frase: “nunca deixe de sonhar”... E aí, hoje, lá me vem o Cat Stevens...

Hoje tô meio filosófico, talvez seja a proximidade da realização do objetivo final, que deve acontecer amanhã. Mas o Cat Stevens e o PHD Chico passaram um lance importante. Porque diabos nos permitimos reduzir os sonhos? A experiência é o fator real ou é uma muleta? Lembram-se do Elói, de Nova Petrópolis, que fazia parte da dupla de gaúchos com o Chico, e com quem viajei junto parte da Carretera? Esqueci de contar um detalhe sobre ele... Ele passou dos 60... Cabelos brancos, e firme na sua XT660, sempre bem humorado, sempre se divertindo com os percalços, como o pneu furado ou o tombo na carretera que ele levou. Esse é o cara! Pra enfrentar aquela pedreira como ele enfrentou, é preciso sonhar alto! Pessoas assim, não envelhecem nunca...

E agora, que vocês já devem estar de saco cheio desse blábláblá, vou pra cama que amanhã vou em busca deste meu sonho. Ushuaia, me aguarde!!!!!!!!!

Monday, January 08, 2007

DIA 15 - EL CALAFATE - LITERALMENTE COÇANDO O SACO... :-)


Mudança de planos!

Hoje era dia de enfrentar rípio outra vez pra voltar pro Chile pra conhecer o Torres del Paine. Mas voltando pro hotel ontem a noite, depois da dúzia de Guiness, dei de cara com um cartaz enorme anunciando excursões de um dia pro Torres del Paine, saindo daqui de El Calafate. Decidi ver qual era antes de decidir o que fazer no dia seguinte.

As 9h tava na agência. A excursão sai as 5h da manhã, chega lá por volta das 10h, passa o dia no parking com trekking e tudo mais, e volta chegando em calafate as 22h. Perfeito! Economizei a ida até Puerto Natales (e o respectivo rípio do caminho) e ainda ganho mais um dia pra descansar e curtir El Calafate, que é do cacete. Portanto, mudança de planos.

Hoje fico aqui, vendo a vida passar nos cafés, escrevendo, reavaliando o planejamento. E já aproveitei também pra dar vazão ao lado McGaiver (sei lá se é assim que se escreve...). Fui ao mercado pela manhã, comprei tudo que é tipo de cola e adesivo e resolvi tentar consertar o windshield da DL. Cola daqui, lixa dali, faz um xunxo e tcharam!!!!!! A DL já tem para-brisa outra vez. O fato de vê-la com o windshield no lugar, além de me dar um alívio porque sem ele eu ia tomar o vento todo da estrada no peito, deu um upgrade no moral da dupla (eu e moto), porque agora não dá nem pra perceber mais que ela foi pro chão.

Portanto, até quarta to em El Calafate, sendo que amanhã dou um pulinho no Chile de novo pra ver o Torres del Paine. E quinta, com moto limpa e windshield no lugar, saio daqui com a intenção de chegar a Ushuaia!!!!!

Agora, vou voltar pra minha cazuela de mariscos que tô faminto!!!!!

PS.: Hoje é aniversário do Véio (Antonio pros menos íntimos). Falei com ele no messenger a pouco e esqueci de dar os parabéns (que vergonha...). Então, pra redenção...

PARABÉÉÉÉÉÉÉNSSSSS, VÉIO LAZZZZZZZZZZAAAAAA!!!!!

Sunday, January 07, 2007

DIA 14 - EL CALAFATE - PARQUE NACIONAL LOS GLACIARES - GLACIAR PERITO MORENO


Descobri porque El Calafate se tornou a meca do turismo patagônico na Argentina...

Peguei uma excursão pro Parque Nacional Los Glaciares, onde fica o Perito Moreno e outros 10 glaciares a distâncias maiores, que exigem excursões de 2 dias de barco pra conhecer a todos.

O glaciar Perito Moreno é um gigante de gelo (pra usar o termo chavão que todos usar por aqui...), de cerca de 7 km de largura, 30 km de extensão e até 50 metros de altura na face norte, que é a que conheci hoje.

São cerca de 80 km de ônibus (descanso for my but e pra heróica DL1000) até o parque nacional. Lá, fiz um passeio de barco pra ver o glaciar a partir do lago Argentino e depois observação do monstro a partir de passarelas que se espalham pelo parque. As passarelas até final da década de 80 chegavam mais perto do glaciar, mas um turista morreu atingido por estilhaços que se desprederam do glaciar e as passarelas foram mais para trás.

O trajeto até o parque até que foi divertido. A guia falava mais que a boca, fornecendo ora informações interessantes sobre a colonização e a origem do glaciar (acreditem, ela falou literalmente o trajeto TODO), ora falando coisas de confiabilidade duvidosa. Por exemplo, ela disse que o maior lago da Argentina é o lago Argentino, aquele no qual está o glaciar Perito Moreno. Entretanto, passei quase 3 dias viajando à margem do lago General Carreira, que vira lago Buenos Aires no terrítório Argentino. Pelo que li e me informei, o lago Buenos Aires/General Carreira é o segundo maior (só não sei se do mundo ou do hemisfério Sul, prometo pesquisar para descobrir), só perdendo para o Titicaca. Perguntei a ela se o Argentino era realmente o maior e a resposta foi cômica: os Argentinos só consideram a porção do lago General Carrera/Buenos Aires que está na Argentina, e por esse critério, o Argentino é maior. Ou seja, eles realmente apenas consideram o lago Buenos Aires como sendo a parte que está em território argentino. Já viram dividir lado ao meio? Nem eu.... :-)

Mas vamos ao que interessa: o glaciar realmente é fora de série. Vislumbrar aquele gigante de gelo é uma experiência no mínimo inesquecível. E a grande atração da parada é quando blocos de gelo se despreendem do glaciar e caem no galo, com um estrondo ensurdecedor levantando "ondas" na superfície do lago. O povo fica horas olhando pro Perito, esperando um bloco daqueles se despreender. Com muita paciência, consegui imitar o povo e filmar o despreendimento de um daqueles blocos de gelo!

A volta foi sonolenta (cochiladinha básica). Na chegada ao hotel, aproveitei para dar um trato na VStrom, tirar o grosso da poeira, e limpar as roupas de viagem. Esse, áliás, foi um capítulo cômico. A jaqueta e a calça da viagem estavam tão, mas tão cheias de pó, que fiz o mais fácil para limpá-las: as vesti e entrei com elas debaixo do chuveiro!!!!! Funcionou que foi uma beleza, ficaram novas em folha e realmente da pra dizer que não passa uma gota de água pelo Gore-Tex e pela Cordura. Salve a Spidi e a X-Vince!!!!!

Depois do banho, vim pra um pub com wi-fi pra atualizar o blog e organizar as fotos e, enquanto fiz isso, já devo estar na oitava ou décima Guiness...

Ai como eu sofro!!!!!!

PS.: Hoje é aniversário do bosta do Rodrigão, que não atende a porcaria do celular, e portanto, ficou sem parabéns. Portanto, vai por aqui: PARABÉNS, ANIMAAAAAAAAAAAAAAAALLLLL!!!!!!!!

DIA 13 - PERITO MORENO (ARG) - EL CALAFATE (ARG)


O dia em que conheci o rípio intimamente...

Saí do camping do Raul as 9h da manhã. Ele é incrivelmente parecido com o Pernambuco, o figura que toca a academia de tenis do Daniel Contet, onde treina a Teliana, por sinal, filha do Pernambuco. Tirei foto pra provar!

Aí, tomei a decisão mais importante da viagem até aqui. Para chegar até El Calafate, haviam duas opções: pegar a famosa Ruta 40, que desce pelo semi-deserto patagônico, o que implicava um tiro de mais de 600 km, dos quais cerca de 500 no rípio, ou atravessar a Argentina até o Atlantico e pega a Ruta 3, que me daria apenas uns 150 km de rípio, mas um trajeto total de cerca de 1000 km. O problema na Ruta 40, além do rípio, era a questão de combustível, porque pelos mapas, depois de Perito Moreno só teria combustível em Tres Rios, uns 500 km abaixo. No caminho, o Josef (o Austríaco rabudo que ganha a vida andando de moto) haviam dois pontos no meio do caminho que teriam combustível com certeza. Pra garantir, fui pros carabineros confirmar e a informação do Josef estava certa. Portanto, decisão tomada: iria pela Ruta 40 e enfrentaria os 500 km de rípio. Até porque, a esta altura, estava me sentindo o rei do rípio...

Entrei "pica grossa" no rípio da Ruta 40. O rípio da Argentina é diferente do rípio do Chile (não disse que tava me sentindo o rei do rípio???? hehehehehe). O rípio chileno é feito de pedras maiores, tipo pedras de rio, mais redondas. O rípio argentino é feito de pedras menores, tipo pedra brita que usamos por aí em construções. Isso gera para a moto uma diferença fundamental, para o bem e para o mal. Para o bem, ocorre que em estradas bem movimentadas, o rípio se espalha mais, deixando o contato com o solo firme que está embaixo mais fácil, o que melhora substancialmente a pilotagem da moto. Para o mal, em função do mesmo fator, que em estradas menos movimentadas, o rípio não se espalha de todo, e aí, formam-se "trilhos" por onde passam os carros, onde as pedras quase desaparecem deixando terreno firme, mas com "montanhas" de rípio em volta destes trilhos. Isso, na prática, traz o mesmo benefício para a moto, só que com uma diferença fundamental: o espaço que se tem para andar com a moto é de não mais que 50 cm, pois se o piloto sai do trilho e pega o rípio acumulado em volta, a roda dianteira da moto perde contato com o solo e dança livremente, ao Deus dará, deixando a moto completamente desgovernada. E o mais interessante: a única forma de recuperar o controle da moto nessas condições, ao contrário do que manda o instinto, não é frear e reduzir a velocidade, mas sim andar sempre em giro alto para que, na eventualidade de escorregar no rípio solto, acelerar forte para recuperar o controle da moto pela tração da roda traseira, "cavando" do rípio.

O início da Ruta 40 foi sem problemas. Meio que dominei a técnica do sangue frio e já tava até me divertindo com as eventuais escapadas, acelerando forte e saindo dos pequenos sustos, chegando a andar a cerca de 100 km/h nessas condições. Até o momento em que, num trecho bastante largo de estrada, a moto escorregou e não havia mais "trilho" pra tracionar. A moto ficou desgovernada, a roda dianteiro tentando ir pra todo lado, e eu tentando manter o sangue frio e acelerar! Isos durou uns 5 segundos, acho que não mais que isso. Mas é impressionante a velocidade com que o cérebro funciona num momento desses. Nesses 5 segundos passaram pela minha cabeça coisas como :tenho que achar uma rota de fuga", "não tem rota de fuga, tenho que escolher o melhor jeito de cair", "se cair, vai dar merda, to muito rápido", "vou ter que interromper a viagem no meio, fudeu", "se me machucar, o que vou fazer pra sair do meio desse deserto?", "será que a moto vai estragar muito?", "quanto tempo será que vou ter que esperar até alguém passar por aqui?". Isso tudo e muito mais, naqueles não mais que 5 segundos...

Mas consegui sair dessa! Não é que funciona? Depois de surfar o rípio daqui pra lá e de lá pra cá, a moto tracionou e consegui sobreviver!

Hora de rever meus conceitos! O Dellamea disse uma coisa legal num comentário que fez no blog: o segredo do viajante de aventura é ler os sinais que a estrada dá. E me parece que sinal mais claro que esse seria impossível. Ou seja, dali pra frente jamais, nem que a estrada estivesse um tapete, passaria dos 80 km/h. Respeito ao rípio!

E assim foi. O cenário da Ruta 40 realmente é fascinante. Formado por um semi-deserto, pequenos canions, e bichos a dar com o pé na beira da estrada (e entrando nela em alguns momentos). Tatus, guanacos (uma espécie de lhama do deserto patagônico), emas... todos ali, no habitat natural, praticamente um sáfari patagônico. Só que esse fascínio acaba depois da primeira hora sob o sol escaldante e a poeira da estrada, porque nada muda. Tem-se a sensação de estar cruzando uma paisagem daquelas de filme de velho oeste, só que esse cenário não acaba nunca.

Parei pra abastecer em Bajo Caracoles, um pueblo onde vivem menos de 80 pessoas. Encontrei um holandês que mora do Rio há tempos estava fazendo viagem parecida com a minha a bordo de um Land Rover defender.

Seguie viagem, levando na bagagem 4 litros de gasolina para a eventualidade do combustível não ser suficiente para os 370 km que separavam Bajo Caracoles do próximo ponto de abastecimento em Tres Rios.

80 km antes de Tres Rios, exatamente com 6125 km rodados desde a saída de Curitiba, o rípio se encantou por mim e quis me conhecer mais de perto...

A merda toda começou a ser construída na noite anterior, quando decidi dormir em Perito Moreno depois de um dia extenuante e acabei tendo uma noite mal dormida na barraca + saco de dormir. O cansaço acumulado, somado ao tédio e consequente tendência à desconcentração ofereceram ao rípio o cenário perfeito para nosso encontro...

A pilotagem nas condições que descrevi é extremamente desgastante. Não se pode tirar os olhos da estrada por um segundo, pois qualquer descuido pode ser suficiente para sair daqueles 50 cm de trilho onde a moto roda com segurança. Num trecho da estrada dos mais tranquilos, com trilhos um pouco mais largos e em que eu trafegava em velocidade moderada (uns 60 km/h), passava pela minha cabeça justamente o pensamento de que em mais 80 km eu estaria em Tres Rios, que o pior já havia passado, que agora estava tudo tranquilo, quando...

Não deu tempo nem de pensar naquela coisarada toda do primeiro susto. A roda dianteira simplesmente afundou do rípio e no momento seguinte, eu estava levantando do meio das pedras para avaliar os danos à moto...

CHÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOO!!!!!

Agradeço à Spidi (jaqueta), Alpine Stars (luvas e botas) e X-Vince (calça) por ter saído quase que absolutamente ileso do episódio. Apenas uma pancada no joelho esquerdo, devidamente protegido pelas proteções da calça, mas que “queimou” ralando no forro interior.

Quanto à moto, a primeira avaliação mostrou um pisca quebrado, o windshield destruído e o suporte do manete esquerdo, onde se sustenta o espelho e a embreagem, quebrado. Para minha surpresa, os bauletos da givi e respectivos suporte, que eram minha grande preocupação no caso de uma queda, sobreviveram ilesos.

Ao que tudo indica, a moto afundou a roda dianteira no rípio, mergulhou de bico pela esquerda (o que explica o windshield e o suporte da embreagem quebrados) e literalmente rodou no próprio eixo (quase que capotou), o que explica o ralado no protetor de motor da lado direito e o bauleto direito e traseiro ralados.

Levantei a moto (o curso da Harley de pilotagem defensiva fez a diferença no esquema de fazer alavanca com a perna pra levantar a bicha e os seus quase 300 kg com os bauletos), e avaliei os estragos. Aparentemente, nada de realmente sério. Nenhum vazamento, nada torto na estrutura, tanque praticamente ileso. Tentei ligar... nada!

Que raios! Agora fudeu! "O jeito é ficar aqui e esperar ajuda", pensei. Mas o mais desesperador neste momento era a sensação de ficar pelo caminho e não completar o projeto. Tudo que me passava pela cabeça era quais seriam as alternativas para consertar a moto e seguir em frente, tudo que eu não queria era ter que desistir. Tentei de novo e nada... Aí lembrei do pulo do gato! A V-Strom não liga se a embreagem não estiver acionada. E o suporte da embreagem estava quebrado! Dito e feito! Mexi no suporte, levantei, puxei, apertei, até que pegou!

Nesse momento, a sensação de alívio foi incomensurável. Havia ainda a preocupação com a moto, em saber se o comportamento dela realmente estaria inalterado. Mas isso era o de menos! Nem que fosse de lado, eu chegaria a algum lugar onde pudesse consertá-la. É evidente que uma ocorrência como essa havia sido prevista e estava preparado para ela (planejamento é tudo, mesmo para o pior...). E ela ocorreu justamente no ponto mais deserto da viagem, mais sem estrutura, no meio de lugar nenhum com o vilarejo mais próximo (não to nem falando de cidade...) a cerca de 100 km. Quando engressei na Ruta 40, o primeiro carro que cruzei na estrada apareceu depois de 75 km rodados! Se a moto não funcionasse, eu teria que aguardar ajuda. Se ajuda não passasse antes de escurecer, tinha barraca, saco de dormir, barras de cereal pra um ano, e água, o que me permitiria passar a noite no local caso fosse necessário. Mas quando a possibilidade se torna realidade, não é fácil.

Mas felizmente, nada de errado aconteceu. O comportamento da heróica DL1000 permanecia inalterado, reto, confiável. E quase duas horas depois, finalmente, cheguei a 3 rios.
Saquei o bom e velho silver tape, que fixou o manete e eliminou o problema da embreagem. Abasteci, e segui viagem até El Calafate, uma cidade encantadora, que ao que tudo indica, experimentou um desenvolvimento vertiginoso ao longo dos últimos poucos anos, já que todos os guias que li a descrevem como uma cidade com duas ruas asfaltadas e o que encontrei foi uma cidade encantadora, com ruas movimentadas e cheias de gente, e algumas dezenas de ruas perfeitamente asfaltadas.

Achei hotel, saí pra comer uma parrila no esquema espeto corrido e experimentar o famoso cordeiro patagônico, e depois disso e do dia mais terrível (mas provavelmente, o que mais me ensinou...) da viagem até aqui, era hora de ir pra cama...

PS.: Só me arrependo de não ter tido a presença de espírito de fotografar a moto caída no meio do rípio. Seria uma boa recordação... ;-)


ROTEIRO: Perito Moreno - Bajo Caracoles - Tres Rios - El Calafate
KM: 638,78 KM percorridos hoje, dos quais mais de 500 no rípio da Ruta 40 - 6458,71 KM rodados no total

DIA 12 - COIHAIQUE (CHI) - PERITO MORENO (ARG)


Rípio na cabeça outra vez! Dááááá-lhe poeirão! Outro dia de rípio quase do começou ao fim. Dia de despedidada da Carretera Austral. E como toda boa atração que se preze, a Carretera guardou o melhor para o seu final...

Passei o dia quase todo percorrendo a Carretera às margens do lago General Carreira, que pelo que fiquei sabendo pelo caminho, é o segundo maior do hemisfério Sul ou do mundo, não sei bem mas vou descobrir. De qualquer forma, o bicho é grande pra cacete, tão grande que é dividido pelo Chile e pela Argentina (do lado dos Hermanos se chama lago Buenos Aires). A cor dá água é de um azul estúpido. E percorrer o dia todo margeando o lago, com montanhas nevadas ao fundo, é de risco extremo, pois corre-se o risco de ficar embasbacado com a paisagem e esquecer da estrada e do maledeto do rípio, que hoje, diga-se de passagem, foi mais tranquilo. Rípio mais compacto, sem tantas pedras soltas na maior parte do caminho.

O ponto alto do dia foi a visita à Capilla de Marmól. A partir de Puerto Tranquilo, um super vilarejo de uns... 80 habitantes (não, não é piada...), pega-se um bote, navega-se cerca de 15 minutos e chega-se aos blocos de mármore esculpidos pela água do lago General Carrera. Verdadeiramente impressionante, os blocos imensos de mármore, formando cavernas esculpidas pela água. É possível entrar nas cavernas com o bote. Para se ter uma idéia da dimensão da coisa, eu tirei, apenas nas tais cavernas de marmól, nada mais nada menos do que 132 fotos!!!! O problema vai ser selecionar depois o que ficou melhor (só não sei, até agora, como era possível sobreviver sem fotografia digital até alguns anos atrás...).

No passeio até a caverna encontrei novamente o Austríaco que está descendo desde a Venezuela e descobri que eu morro de inveja do laaaazarento... Ele ganha a vida viajando de moto pelo mundo pago pela KTM. No site da KTM já está publicada a última aventura dele, um passeiozinho do Cairo até a cidade do cabo... Tem gente que nasce virada pra lua... hehehehe

De volta à estrada, cheguei ao final da Carretera e no entroncamento que segue até Cochrane e Villa O'Higgins, pelo qual seguiram o Josef (nome do Austríaco) e os dois brazucas do Rio Grande, ou que desvia para Chile Chico, na fronteira com a Argentina, segui esta última alternativa. A viagem até Villa O'Higgins, pelo que dizem os guias, não tem grandes atrativos e não 'há, em princípio, como atravessar de lá para a Argentina, o que geraria um retorno de mais de 300 km, sempre pelo rípio. Preferi seguir o lado mais seguro.

A estrada deste entroncamento até Chile Chico faz a Rio-Santos parecer fichinha... O tempo todo margeando o General Carreira, mas em rípio, e com boa parte do trajeto, construído sobre rocha nua. Dizem que esta foi a estrada que mais caro custou aos cofres chilenos, em função das toneladas e toneladas de explosivo necessárias para abrir caminho na rocha. Mas era uma questão de soberania, já que sem esta estrada, o principal acesso de Chile Chico para o mundo era via Argentina.

Cheguei em Chile Chico por volta das 20h. Como era cedo para os padrões patagônicos (nesta latitude fica escuro por volta das 22h30), resolvi atravessar a fronteira e dormir em Perito Moreno. Idéia de Jerico...

Na cidade fronteiriça do lado argentino chamada Los Antíguos, estava tendo um festival da cereja! A festa pelo jeito é a coisa mais esperada do ano pelo povo em volta, e por essa razão, fique 2 horas e meia pra cruzar a porcaria da alfândega, esperando toda a boa vontade dos DOIS policiais de plantão pra atender todo aquele povo. Cruzei a fronteira já estava começando a escurecer. Hotel em Los Antíguos, nem pensar. Toquei até Perito Moreno, cerca de 50 km adiante, e cheguei lá já de noite. E adivinhem: claro, os hotéis no tal do Los Antíguos todos lotados, adivinhem pra onde foram os turistas??? Perito Moreno!!!

23h30m, noite alta. Vaga nos QUATRO hotéis da cidade, nem pra remédio. Entrei no escritório de apoio ao turismo da cidade (sim, aberto as 23h30m, tudo aqui é meio fora do padrão...) e me indicaram a salvação da lavoura: Camping do Raúl!!! Resignado, lá fui eu ao camping do Raúl, um cara figuraça, que me recebeu como quem recebe um parente que não vê há muito tempo, me indicou o único mercado que deveria estar aberto na cidade e me cobrou 10 pesos pelo local pra montar a barraca e 5 pesos pelo estacionamento da moto.

Montei a barraca como um veterano (a não ser pelo fato de estar lendo as instruções, já que nunca havia feito isso na vida...), entrei na barraca acompanhado pelo notebook pra fazer o relato da noite e por uns pedaços de queijo mais um vinhote em embalagem tetrapak (sim, aqui vendem vinho em embalagem tetrapak) recém adquiridos no mercado, e assim, depois de atualizar as informações do gps no notebook e fazer o relato do dia, estreei com toda galhardia o meu novíssimo saco de dormir, tendo como travesseiro a minha necessaire!

ROTEIRO: Coihaique - Baia Murta - Puerto Tranquilo - El Maiten - Chile Chico - Perito Moreno
KM: 463,45 km percorridos hoje, dos quais cerca de 380 do rípio - 5819,93 rodados no total

Thursday, January 04, 2007

DIA 11 - PUYUHUAPI (CHI) - COIHAIQUE (CHI)


Rípio, rípio e mais rípio...

Antes de mais nada, é preciso que se diga algo: o pior rípio do mundo não é nem de longe motivo para não se percorrer a Carretera. O rípio é cansativo, em alguns trechos a estrada está complicada devido à preparação para receber asfalto (sim, vão asfaltar a Carretera...) mas o que se vê no percurso é sem palavras... um cartão postal ao vivo e em cores, do qual você faz parte enquanto pilota.

Mas o dia foi cansativo. Em termos de distância percorrida, rodamos pouco. Mas pilotar no rípio nessas condições, embora divertido, é cansativo.

Começamos cedo em Puyuhuapi para consertar o pneu do Elói. Após o pneu consertado (detalhe: Puyuhuapi tem 800 habitantes... ainda assim, conseguimos identificar 3 borracheiros na "cidade"), avancei na frente dos gaúchos, até a entrada do glaciar suspenso de ventisqueiro colgante, no parque Queulat, onde, como diz o nome, é possível ver um glaciar suspenso. O glaciar fica no alto de uma montanha, com um lago bastante grande embaixo, formando uma cachoeira proveniente do degelo do glaciar. Esta palavra está ficando recorrente, mas mais uma vez, é indescritível...

De lá, rumo o Coihaique, a principal cidade da Carretera. Os últimos 70 quilometros já percorridos em asfalto, mas nem por isso, por cenários menos privilegiados. Antes do asfalto, o Elói encontrou-se com o rípio mais de perto duas vezes, mas felizmente nada de sério ocorreu, apenas um manete entortado. Quanto à V-Strom, se comporta como uma lady. Ela não exatamente uma KTM como a do Austríaco, mas não nega fogo. Portou-se exemplarmente no rípio e chegou ao final da primeira etapa ripiada com apenas um parafuso perdido, o do protetor de corrente, que chegou ao asfalto pendurado por apenas um lado. Com a ajuda providencial do saco de parafusos que o Chico carregava, repus o dito cujo e reapertei os parafusos do suporte das malas laterais. Fora isso, a bichinha tá perfeita!!!!!

Ao chegar a Coihaique, me despedi, ainda que temporariamente, do Chico e do Elói. Eles seguiram viagem aproveitando o tempo bom (uma observação: ZERO de chuva na Carretera até o momento. Pelo que dizem, isso praticamente inexiste. Definitivamente alguém lá em cima gosta da gente...) e seguiram até Villa Cerro Castillo, provavelmente. Eu fiquei, porque estou com o planejamento sendo cumprido à risca, e estava extremamente cansado, portanto, não havia porque forçar a barra parfa avançar, e, ficando em Coihaique, a probabilidade de achar um hotel com Internet era maior. Como amanhã devo sair bem cedo, é possível que ainda nos encontremos pelo caminho, embora eu deva ir a Chile Chico contornando o lago General Carreras e eles pensam em ir até Villa O'Higgins , no extremo sul da carretera.

Amanhã devo conhecer a capilla de marmol, na região de Puerto Rio Tranquilo (pelos guias, consiste em uma autêntica "ilha de marmore", no meio do pacífico), e chegar a Chile Chico, depois de aproximadamente 350 km de rípio.

E vamo que vamo!!!!

ROTEIRO: Puyuhuapi - Villa Amengual - Villa Mañihuales - Coihaique
KM: 275,28 KM percorridos hoje, dos quais em torno de 210 de rípio - 5356 rodados no total

DIA 10 - QUELLÓN (ILHA DE CHILOÉ) - PUYUHUAPI (CARRETERA AUSTRAL)


Ola, que tal?
Finalmente, consegui conexão para atualizar o blog. Desde a última vez, um caminhão de coisas aconteceu, os dias aqui estão longe de serem monótonos. O dia 9, ao contrário do que eu imaginava, terminou em Quellón ao invés de Castro. O transbordo para Chaitén seria a partir de Quellón mas imaginei que a cidade não devia ter estrutura no que me enganei.

A travessia da grande ilha de Chiloé é um capítulo à parte. Tem-se a sensação de estar entrando em outro mundo, a começar pela paisagem, predominantemente plana, muito diferente do que estava acostumado até então. Além disso, é uma parte do Chile muito menos desenvolvida, com pessoas nitidamente mais simples e com uma atmosfera particular. Tem-se a sensação de que a vida passa mais devagar em Chiloé. Outra particularidade é a grande quantidade de bêbados na rua. O que tem de cozido pelas ruas, abraçados das garafas não é brincadeira.

Passei a noite em Quellón numa cabaña ajeitada! Como de costume, não faltou sorte... Na chegada a Quellón, uma cidade estilo velho oeste, cheia de coisas fechadas, construções abandonadas, com um clima nitidamente meio cinzento, perguntei num posto sobre o embarque do transbordo. O frentista me indicou o escritório da empresa que opera os barcos, mas estava fechado... saindo do lado do escritório, um cidadão. Perguntei se ele trabalhava ali, ele disse que sim e me ofereceu estadia nas cabañas, que são também operadas por ele. Negócio casado... hehehe...

Na mesma hospedagem, um austríaco numa KMT 990 Dakar estupidamente preparada para maus terrenos. Descobri na sequencia que o cidadão, um polacão cabeludo todo maluco, está viajando há 3 meses e meio, descendo toda a América do Sul, com uma moto fornecida pela própria KTM para a aventura. Assim, até eu!!!! ;-)

Ainda antes do embarque na manhã do dia dia 10, conheci dois brasileiros, Chico e Elói, numa Super Teneré e numa XT660, ambos de Nova Petrópolis, fazendo basicamente o mesmo trajeto.

O transbordo para Chaitén transcorreu como um passeio no lago, ao contrário do que esperávamos, pois os relatos falavam de viagens de até 8 ou 9 horas, com o barco chacoalhando como numa batedeira. Pela forma como amarraram as motos no barco, realmente nos preparamos para o pior. Mas o tempo continua a nosso favor, e em pouco mais de 5 horas desembarcamos em Chaitén.

Abastacemos e estrada!

20 km após Chaiten, começou a Carretera Austral de verdade! E o bicho pegou! E muito! A estrada havia sido patrolada a pouco tempo e a quantidade de pedras soltas era inenarrável. A pilotagem da moto tornou-se uma aventura arriscada e perigosa, com a moto literalmente surfando as pedras. Andar devagar (menos de 60 km/h) nem pensar, pois a roda dianteira afundava nas pedras. Foi bom ter companhia neste trecho! Em pouco tempo já estávamos acostumados (até onde se é possível acostumar com um terreno como este) e a viagem fiocou mais tranquila, e mais uns 20 km depois, a rípio ficou "confortável", as pderas diminuíram, e a viagem começou a render, com média horária neste trecho acima de 80 km/h.

Passamos por La Junta (primeira cidade após Chaiten, cerca de 150 km de rípio) e como o dia tem escurecido após as 22h, decidimos avançar mais cerca de 60 km até Puyuhuapi. Entretanto...

No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. E a pedra furou o pneu dianteiro da XT do Elói. Ai fudeu... Socamos o bom e velho "tire pando", e nada... O jeito foi os gaúchos quedarem-se esperando na estrada e eu ir atrás de ajuda, isso já por volta das 21h30m. Como sempre... a sorte!

5 km mais adiante (ainda faltavam 20 para Puyuhuapi) havia um lodge, que para resumir a história, colocou um caminhão pra ir buscar a moto e nos hospedou numa cabanaa, num cenário de filme. Este lodge, (el Pangue) fica na única zona privada dentro do parque nacional Queulat, e possui um microclima particular onde sempre há tempo ruim, devido à proximidade das montanhas da cordilheira entre si. Pode parecer programa de índio (quem em sã consciência iria para um lugar onde sempre faz tempo ruim???) mas a beleza do local é realmente única.

Janta no restaurante do hotel e cama, que muito rípio nos aguardava no dia seguinte, sem contar que ainda seria necessário consertar o pneu do Elói.

ROTEIRO: Quellón (Chiloé) - travessia Quellón - Chaitén (5h30m de travessia) - La Junta - Puyuhuapi
KM: 251,24 KM percorridos hoje, incluindo aproximadamente 75 km de barco - 5081 KM rodados no acumulado

Tuesday, January 02, 2007

DIA 9 - PUERTO VARAS (CHI) - QUELLÓN (ILHA DE CHILOÉ - CHI)


Consegui! Atualizei o blog todo e agora, se tudo correr bem, ele correrá junto comigo. Estou saindo pra Chiloé. A vista do vulcão aqui do hotel realmente é impagável.

Hoje, se tudo crrer bem, ainda passo em Puerto Montt pra comer mariscos.

ROTEIRO: Puerto Varas - Puerto Montt - Travessia Pargua - Chacao (35 minutos) - Ancud - Castro - Quellón
KM: 310 KM rodados hoje - 4830 KM rodados no acumulado

DIA 8 - PUCÓN (CHI) - PUERTO VARAS (CHI)


Salve!

Hoje escrevo de Puerto Varas, cidade a beira do lago Llanquihué e bem próxima do vulcão Osorno. Estou aguardando servirem um tal de cerdo no disco. Infelizmente, depois de uma semana de viagem já se começa a ficar a perigo, aí o jeito é mesmo comer um viadinho...nem que seja assado no disco... :-)

Btw, o disco eh como a nossa picanheira daí, um disco de arado.

O dia foi tranquilo, passei por lagos belissimos, as belezas naturais desta regiao são de cair o queixo. Também fiz meu batismo no rípio! Para chegar ao lago de todos los santos e ao Osorno, tem rípio no caminho e já deu pra ter uma idéia do que vem pela frente. Não me pareceu de todo mal, apenas exige muito mais atenção na pilotagem e uma tocada mais prudente.

Amanhã chego a Chiloé, a ilhazinha ao sul do chile. Muita gente pelo caminho disse que é lindíssimo. Amanhã conto o que achei.

Abraços patagônicos!

ROTEIRO: Pucón - Villarica - Frutillar - Puerto Varas - Parque Nacional Vicente Pérez Rosalez - Puerto Varas
KM: 482 KM rodados hoje - 4465 KM rodados no acumulado (incluindo 35 KM rodados em Pucón)

DIA 7 - PUCÓN (REVEILLON)


Hoje era o dia de descanso, relax total, sem moto. E para descansar, resolvi fazer uma escaladinha básica ao vulcão Villarrica, quase 3000m de altitude. Coisa básica, 5 horas subindo e duas e meia descendo, a maior parte da descida de esquibunda. As 5hs de caminhada sendo feitas pelo gelo, com mochila nas costas. O visual lá em cima é o bicho, o único probema é que o descanso virou uma insanidade em termos de esforço físico e agora acabei de chegar ao hotel completamente estragado.

O jeito é ir pra cama pra ver se consigo pelo menos voltar a me mexer antes da meia noite pra ver a queima de fogos no lago!

Feliz 2007 pra todo mundo. Que tenhamos todos a capacidade e a condição de criar um ano melhor do que todos os que vivemos até aqui. Que seja esse nosso espírito preponderante, o espírito dos que acreditam que o melhor sempre estah por vir e que buscam incessantemente tornar essa intencao uma realidade!

Ouvi da boca de uma pessoa muito sábia que almas grandes têm vontade, as outras têm desejo. Que em 2007, tranformemos nossos desejos em vontade, e, ao fazê-lo, que tragamos nossos sonhos mais proximos da sua realização.

Saludos!

DIA 6 - TEMUCO (CHI) - PUCON (CHI)


Caros e caras, o report de hoje vai mais cedo porque o dia tá light.

Saí de Temuco e rodei apenas cerca de 120 KM até Pucón, passando por Villarica.

O visual é indescritível, principalmente pra nós Brazucas q nao temos essas coisas por aí. Um vulcão gigantesco, com cume nevado e ativo, com um lago igualmente gigantesco em volta. Simplesmente impressionante. Tão impressionante que mudei de novo o roteiro e resolvi passar o ano novo por aqui pra poder escalar o bicho amanhã. A boa notícia é que bunda na moto agora, só no ano que vem! ;-)

ROTEIRO: Temuco - Villarica - Pucón
KM: 135 KM rodados hoje - 3948 KM no acumulado

DIA 5 - SANTIAGO (CHI) - TEMUCO (CHI)


Chegamos ao dia 5 com um adiantado em relação à programação original de 200 km.
Agora o planejamento passar a ser referencial, porque o avanço dependerá das atrações e das condições climáticas. De ontem para hoje (já estou no dia 6, porque estou enviando esta mensagem no café da manhã) deveria ter dormido em Los Angeles, mas passei reto e parei em Temuco, capital da região dos lagos e estou bem próximo do primeiro grande vulcão, o Villarica.

Ontem nada de muito relevante em termos de atrações. Passei a manhã na Suzuki de Santiago revisando a moto e a tarde na estrada rumo ao Sul pela Ruta Panamericana. Quano à parda na Suzuki, um acontecimento digno de nota. No dia anterior, quando atravessava a cordilheira, encontrei dois caras, em duas V-Stroms iguais (roxinhas, tudo meio suspeito... hehehehe), com os quais não houve qualquer tipo de sintonia. Incrível como esse negócio de não ir com a cara às vezes bate forte, mas foi o que aconteceu. Pois ao chegar à concessionária quem encontro? Os dois paulistas... E, feliz ou infelizmente, me dando razão... os caras criaram confusão na concessionária da hora que chegaram até a hora que saíram. Arrogantes, prepotentes e mal educados. Mal trataram os mecânico, se achando os reis da cocada preta, e saíram de lá com cara de quem "sabe tudo". Me senti envergonhado... e expressei ao pessoal super prestativo da concessionária o desejo de que não tomassem todos os brasileiros por esses dois babacas, que de motociclistas não têm nada, pois estão longe de compreender o verdadeiro espírito desse estilo de vida.

A seguir, um fato pitoresco: a primeira multa por excesso de velocidade (sem fatos pitorescos, a viagem não tem graça). Estava próximo de Los Angeles andando em bom ritmo quando de repente, não mais que de repente, sinal dum guardinha pra parar. Ele chega com cara de brabo e diz que não tem nem comentários a fazer, me mostra o radar (eu estava a 140 km/h, nem estava tão rápido assim...) e diz que vai me levar ao tribunal por aquilo. Aí confesso que me deu um certo pânico... "tribunal?", pensei eu... Desci da moto, argumentei, conversei, e entendi o que era o tal "tribunal". Basicamente, minha carteira de motorista ficaria apreendida e eu ganharia um "papelito" que é a multa em si, que me permite dirigir no Chile sem a carteira de motorista até o dia 12/01, data limite para que eu fosse ao município que me multou, pagasse a multa (algo como 50.000 pesos ou 200 reais) a reavesse a carteira. Argumentei que não ia voltar por ali, etc, etc. mas não teve choro. Mas felizmente, uma vez mais, a providência estava a meu favor. Quando me roubaram o carro em jan/2005 e levaram todos os documentos, posteriormente acharam minha carteira de motorista original. Mas então, eu já tinha feito segunda via. Quando saí de Curitiba, lembrei de pegar as duas carteiras de motoristas para a eventualidade de eu perder uma pelo caminho. Nesse caso, teria a segunda pra me aliviar. E não é que funcionou???? Quando me lembrei da segunda carteira, agradeci ao carabinero, e por pouco não escrevi uma dedicatória para ele na carteira de motorista que ficou com ele. Voltei pra moto, peguei a segunda carteira, e lá vou eu, agora, apenas tomando um pouco mais de cuidado com a velocidade pelas estradas do chile...

Hoje, dia de vulcões e lagos. Infelizmente o tempo resolveu não colaborar, está tudo nublado, e para ver e fotografar os vulcões, o ideal é dia claro. Mas como o que não tem solução solucionado está, lá vou eu rumo aos vulcões!

ROTEIRO: Santiago - Chimbarongo - Parral - Los Angeles - Temuco
KM: 706 KM rodados hoje - 3813 KM no acumulado

DIA 4 - MENDOZA (ARG) - SANTIAGO (CHI)


DIA 4 - MENDOZA (ARG) - SANTIAGO (CHI)

Chegamos ao final do dia 4 com a programação cumprida à risca. Estou em Santiago, e a partir de amanhã, é rumo ao Sul até acabar o Sul! :-)

Como eu previa, hoje de fato começou a viagem! O dia foi duca!

Pela manhã, fiz tour em duas vinícolas (Bodega Chandon e Bodega Norton). Degustei umas champagnotas e uns vinhotes de leve, pra não viajar borracho. A tarde, rume ao Chile. Atravessar a cordilheira dos andes, definitivamente, é uma experiência surreal. Na foto ao lado, quem está ao fundo é o Aconcágua.

Abraços!

ROTEIRO: Mendoza - Uspalatta - Santiago
KM: 390 KM rodados hoje - 3107 KM no acumulado


DIA 3 - SANTA FÉ (ARG) - MENDOZA (ARG)

DIA 3 - SANTA FÉ (ARG) - MENDOZA (ARG)

Salve. Quase 3000 km já foram e a pior parte do inicio da viagem já foi. Foram três dias de muuuuita estrada (na maior parte do tempo uma monotonia tremenda), mas após 12 hrs de bunda na moto só hoje, finalmente cheguei a Mendoza.

Agora começa a diversão de verdade, amanhã tem vinícola (as bodegas argentinas) de manhã e travessia dos andes rumo ao chile à tarde, com direito a cruzar "los caracoles". Se o blackberry continuar funcionando no chile como aqui na argentina, amanha mando notícias de lá, q hoje to quebrado, vou comer e cama!Saludos!

ROTEIRO: Santa Fé - San Francisco - Villa Maria - Villa Mercedes - La Dormida - Mendoza
KM: 922 KM rodados hoje - 2716 no acumulado

DIA 2 - POSADAS (ARG) - SANTA FÉ (ARG)

DIA 2 - POSADAS (ARG) - SANTA FÉ (ARG)

Tudo como programado, cheguei em Santa Fé hoje as 17.30, quase 1900 km depois da decolagem em curitiba. Se ontem tive chuva, hoje atravessei a reta sem fim dos pampas argentinos debaixo dum sol infernal. Na chegada a Santa Fé pedi informacao prum cara de motoneta que não só me deixou na porta dum Holiday Inn (esses costumes pequeno burgueses - hotel boooom - ainda nao me abandonaram...) como ainda é gerente dum bar.

Ou seja, fudeu... Já vi q vou encher a cara e amanha vou pra Mendoza de ressaca.

A viagem segue tranquila e sem imprevistos. É impressionante como em literalmente todas as paradas as pessoas se aproximam para perguntar da moto. O maior quebra gelo do mundo deve mesmo ser uma moto de grande cilindrada. Agora vou nessa que antes de ir pro bar ainda tenho q pegar uma piscininha pra refrescar... ;-)

Ai como eu sofro!

ROTEIRO: Posadas - Itaibate - Resistência - Las Garzas - Cachaqui - Santa Fé
KM: 884 KM rodados hoje - 1794 KM no acumulado

DIA 1 - CURITIBA - POSADAS (ARG)

DIA 1 - CURITIBA - POSADAS (ARG)

Salve. Parte 1 da missão ushuaia cumprida. Cheguei em posadas hoje as 18h depois de levar um dilúvio nas costas desde que entrei na argentina. Posadas é uma grata surpresa, com uma avenida "costaneira" na beira do rio e um centro forrado de cafés e mesas nas calcadas. Comecei com o pé direito! A moto se comportou bem, mesmo na chuva, e tudo corre como planejado.

ROTEIRO: Curitiba - Guarapuava - Pato Branco - Bernardo Irigoyen - Puerto Rico - Posadas
KM: 910,56 KM rodados

ATÉ O FIM DO MUNDO...

Cedi aos caprichos da tecnologia e resolvi criar um blog pra publicar informações da viagem de moto até Ushuaia. Até aqui, estava enviando mensagens pelo blackberry, mas pra facilitar e pra não ficar enchendo a caixa postal de todo mundo, criei o blog e até o final da viagem, os boletins seguirão por aqui.

Abraços
Allan